UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA DOS SERTÕES
3. UMA ARQUEOLOGIA DO SÍTIO CULUMINS
A respeito do sítio Culumins, pertencente a área rural de Caicó/RN, não temos
informações referente a data precisa de sua origem. Apesar de que tenhamos indicação que a
propriedade fazia parte de uma divisão de terras, em conjunto com outras duas fazendas
chamadas de Umary e Manhoso, situadas hoje no município de Ouro Branco/RN. Meados do
século XX é apontado como o momento em que o sítio deixa de ser habitado, justificado pelo
difícil acesso a água, e com a construção de um açude na fazenda Manhoso acaba ocasionando
a mudança. Além do mais, parte do material construtivo pertencente a edificação do Culumins
foi empregado para a construção no Manhoso.
.
O espaço ainda conta com parte da estrutura da casa sede, a qual foi edificada na parte
mais elevada do terreno, é possível também observar ao redor da propriedade cercas de pedra.
No tocante a casa, remetendo ao estilo das casas-fortes ou “casa-de-pedra”, é preponderante o
uso de rochas como matéria-prima que, por meio da junção e encaixe delas, a estrutura foi
levantada. Como já visto, é exceção se tratando do modo de moradia para o Seridó. Além do
uso da rocha, outros tipos de materiais são visíveis, tendo a presença de argamassa e tijolos
vermelhos na parte mais elevada da parede, enquanto fragmentos de telhas estão distribuídos
entre elas. Ademais, nas laterais da casa permanece a acumulação de vestígios construtivos
(Figura 10).
A partir de Diniz (2008) é interessante observar que na fazenda Umary, pertencente a
Cosme Pereira da Costa27, as ruinas da primeira casa28 dessa propriedade possuía o mesmo
estilo construtivo percebido no Culumins (Figura 11). Segundo a autora, Cosme Pereira da
Costa adquiriu a propriedade no início do século XIX, apontando que a mesma já existia no
final do século XVIII.
Informações obtidas a partir de uma conversa inicial com Fernando Costa, realizado no início de 2020. Fernando
Costa faz parte da família proprietária do Culumins, indicando que o sítio permanece em sua família desde Manuel
Vieira da Cunha, filho de Cosme Pereira da Costa, em seu primeiro matrimônio com Maria Pereira da Cunha.
27 Nascido em 1768 na freguesia de Mamanguape, Paraíba e faleceu no ano de 1865. Se casou duas vezes, a
primeiro com Maria Pereira da Cunha e o segundo matrimonio om Maria Tereza de Jesus.
28 Foi substituída com a construção de uma outra casa habitada por Ana Vieira Mimosa, filha de Cosme Pereira da
Costa, em seu segundo casamento, e Maria Tereza de Jesus.
Figura 11 – Imagens destacando o estilo construtivo da casa sede, evidenciando os tipos de materiais presentes
Fonte: Acervo do Laboratório de Arqueologia do Seridó (LAS-CERES/UFRN).
Figura 12 – Estrutura da primeira casa sede da Umary
Fonte: DINIZ, Nathália Maria Montenegro. Velhas fazendas da Ribeira do Seridó. Dissertação (Mestrado) –
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, Universidade de São Paulo, 2008, p. 176.
As intervenções arqueológicas no Culumins foram realizadas nos anos de 2016 e 2019,onde na segunda etapa de campo houve a composição de um croqui, referente a planta baixa da
casa sede, com base nas estruturas que ainda são visíveis no sítio (Figura 12). Por conseguinte,
a arquitetura da casa tem o padrão citado em Medeiros Filho (1983), com o formato retangular
Figura 11 – Imagens destacando o estilo construtivo da casa sede, evidenciando os tipos de materiais presentes
Fonte: Acervo do Laboratório de Arqueologia do Seridó (LAS-CERES/UFRN).
Figura 12 – Estrutura da primeira casa sede da Umary
Fonte: DINIZ, Nathália Maria Montenegro. Velhas fazendas da Ribeira do Seridó. Dissertação (Mestrado) –
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, Universidade de São Paulo, 2008, p. 176.
As intervenções arqueológicas no Culumins foram realizadas nos anos de 2016 e 2019,
onde na segunda etapa de campo houve a composição de um croqui, referente a planta baixa da
casa sede, com base nas estruturas que ainda são visíveis no sítio (Figura 12). Por conseguinte,
a arquitetura da casa tem o padrão citado em Medeiros Filho (1983), com o formato retangular.
O capítulo segue composto por dois tópicos, a discussão deste capítulo incorpora duas
categorias de materiais: as cerâmicas e louças. Logo, antecedendo esses pontos, segue uma
breve descrição acerca da campanha arqueológica efetuada em 2016, já que os dados dos
materiais expostos foram coletados nessa etapa.
A delimitação da área de escavação por superfície ampla aconteceu em uma zona
declive, localizada na parte externa da casa. Como método, foi utilizado uma divisão por
quadriculamento – com uma malha de escavação 4×4 – a qual consiste em dividir a área em
unidades, chamadas de quadrículas. Para que seja mantido o controle e a identificação da zona,
em que os vestígios estão sendo coletados, a área é nomeada com uma ordem alfanumérica.
De modo geral, esteve presente na área de escavação muitas rochas de tamanhos
variados espalhados pelas quadriculas, sedimento alaranjado, de difícil remoção, e acinzentado,
bastante raízes e carvões dispersos. Para o nivelamento, o ponto 0 foi estipulado em 20cm,
enquanto que para a sequência de retirada de sedimento se utilizou de níveis artificiais com
10cm, alcançando até 60cm (Figura 14).
3.1 Análise das cerâmicas utilitárias encontradas no sítio Culumins
Fazendo parte do cotidiano dos diversos grupos humanos desde o período pré-colonial,
a confecção da cerâmica alcança uma longa temporalidade. Se tornaram objetos que não
estavam restritos exclusivamente a preparação e armazenamento de alimentos, passando a ser
adotados em uso cerimonial, funerário, lúdico e de adorno. Logo, se trata de um material
corrente, no que corresponde aos comportamentos sociais de alimentação, ritualístico,
comercialização, representando igualmente contatos entre indivíduos. Nesse sentido, é um
elemento que possibilita inferir acerca do modo de vida dos grupos, mesmo enquanto objeto
que pode ser visto de aparência simples, em alguns casos, sua confecção permanece de acordo
com uma cadeia de técnicas (LUNA, 2003).
O estudo da cerâmica ocupa, certamente, uma posição expressiva na disciplina
arqueológica. Isto se deve, em primeiro lugar, à universalidade deste tipo de
vestígio: além de a cerâmica ser encontrada em contextos arqueológicos de
praticamente todo o mundo, possui uma história bastante recuada no tempo.
[…]. Por outro lado, graças às suas propriedades físicas, os vestígios cerâmicos
têm grande durabilidade, permitido ao arqueólogo recuperar uma porção
expressiva dessa indústria. (ROBRAHN-GONZÁLEZ, 1998, p. 287).
3.2 Análise das faianças finas encontradas no sítio arqueológico Culumins e cronologia
relativa do sítio, a partir da manufatura das louças históricas
Ao longo das etapas de pesquisa de campo realizadas na área do sítio arqueológico
Culumins, foram coletadas 636 peças de louça32 histórica. Esta amostragem reflete a intenção
de identificar e caracterizar a cultura material histórica ali presente, bem como de compreender
o uso do espaço, a partir das evidências arqueológicas encontradas em diferentes locais do sítio
e, principalmente, na área de escavação por superfície ampla. Contudo, destacamos que ainda
se mantém in situ, em diferentes porções do sítio arqueológico materiais e estruturas
arqueológicas que podem vir a oportunizar novos dados sobre os grupos domésticos que ali
habitaram.
Neste tópico, estamos particularizando como louça histórica derivados de cerâmica,
que aparecem também no sítio arqueológico sob a forma de fragmentos, e os quais objetivamos
diferenciar das loiças (AMARAL, 2012) que em nosso caso são cerâmicas utilitárias de
produção local ou regional, que fazia parte de redes de comercialização locais e regionais.
Tratam-se, pois, de faianças finas onde percebemos diferentes atributos como classes, tipos de
pasta, cores de pasta, decorações, cores de fundo, motivos decorativos, carimbos, motivo de
borda e cores de desenhos.
A metodologia utilizada para análise das peças consistiu primeiramente em triagem
dos fragmentos de louça. Após essa triagem foi feita a limpeza e utilizado o método de aferição
do número mínimo de peças, chamado por Araújo e Carvalho (1993) de “número mínimo”.
Cronologia do sítio Culumins, a partir da manufatura das louças encontradas
durante as escavações
Os dados apresentados sobre análise das faianças finas coletadas na área do sítio
Culumins evidenciaram diferentes padrões decorativos, ou elementos que podem ser tomados
como referência na atribuição de uma cronologia relativa sobre o sítio arqueológico, de forma
a que possamos pensar o período de ocupação do espaço, isto, considerando que o levantamento
documental já abordado neste trabalho posiciona o sítio já figurando em inventário do século
XIX.