
Detentor de onze mandatos consecutivos de deputado federal, Henrique Eduardo Lira Alves, nascido no Rio de Janeiro quando o pai, Aluízio Alves, ocupava igual função, sempre disse ser um político vocacionado.
De discurso e comportamento radical durante grande parte de sua vida, apelidado de “Deputado Copa do Mundo” por em outras épocas viver mais fora do RN que no próprio estado, Henrique sempre destacava sua participação, ao lado de grandes nomes do PMDB, pela redemocratização do País. E ele não poupava palavras ao citar nomes como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Teotônio Vilella e outros.
Atualmente sem mandato e sem ocupar cargo público – perdeu a eleição para governador em 2014 e foi obrigado a deixar o cargo de ministro do Turismo do governo do presidente Michel Temer depois de ter exercido o mesmo cargo e função no governo da então presidente Dilma Rousseff, cassada com a ajuda providencial do PMDB – Henrique vive o pior momento de sua trajetória na vida pública brasileira.
Antes considerado um dos mais influentes e poderosos políticos da República, ele agora anda na companhia de ninguém menos que Eduardo Cunha, o presidente da Câmara dos Deputados afastado e deputado cassado por denúncias de corrupção.
Henrique esteve com Cunha momentos antes de sua prisão. A de Cunha. Foi solidário até o final. A solidariedade fez com que o “malvado favorito” do Congresso Nacional citasse o ex-deputado e seu antecessor na presidência da Câmara como testemunha de defesa em pelo menos um dos processos que responde na Justiça.
Não é para menos. Henrique Alves e Eduardo Cunha sempre andaram juntos. Viajavam juntos pela Europa com as esposas e amigos, fotos nas redes sociais da esposa de Henrique sendo recebida pela jornalista Claudia Cruz eram constantes, como também encontros sociais e viagens pelo mundo afora, a “amizade, atenção e carinho” sempre foram destacados nessas postagens.

Cunha, temido e poderoso como presidente da Câmara, foi quem teve que dá o aval final para que Henrique fosse indicado pelo PMDB para ministro da então presidente Dilma Rousseff depois de uma espera angustiante pela nomeação. Uma retribuição ao tempo que Henrique era presidente da Câmara e Cunha líder do PMDB. Eduardo Cunha mordia e Henrique soprava. O governo temia Cunha e Cunha fortalecia o papel de Henrique. Os dois foram ficando cada vez mais fortes. Até que Henrique decidiu que era hora de ser governador acreditando que teria uma vitória fácil e Cunha decidiu ser presidente da Câmara dos Deputados. Henrique chegou a juntar em seu palanque 18 partidos políticos e oficialmente declarou ter gasto R$ 26.783.434,40, disparado a maior quantia já gasta numa campanha no RN. No dia 16 de fevereiro de 2016 o TRE/RN desaprovou as contas de Henrique ao Governo do RN.
Há meses, Cunha e Henrique estão denunciados ao Supremo Tribunal Federal em um mesmo processo, que aponta o recebimento de propinas pagas pela Carioca Engenharia.
As propinas teriam sido pagas pela empreiteira, bastante ligada a Eduardo Cunha, como pagamento pelos serviços prestados pelos agora ex-deputados. Na origem dos negócios, o suado dinheiro dos trabalhadores brasileiros depositados sob a forma de Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. Henrique e Cunha mandavam na Caixa Econômica, indicavam diretores, um dele, o ex vice-presidente Fábio Cleto, disse nominalmente em sua delação que Cunha e Henrique levaram vantagens e mandaram dinheiro desviado do FGTS para o exterior.
O dinheiro da propina foi parar em conta na Suíça, criada por escritório uruguaio. Em 2015, quando o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, mandou para o Supremo Tribunal Federal a primeira lista dos políticos citados na Operação Lava Jato, Henrique tratou de esvaziar a conta no banco suíço. Algo em torno de 3 milhões de reais. Tudo foi enviado para contas nos Emirados Árabes e no Uruguai. Quem conta esta história é a Revista Isto É, a mesma que em 2002 revelou para o Brasil que Henrique, também chamado de Henriquinho pelos mais próximos e íntimos, mantinha polpuda conta no Exterior.
A reportagem de 2002 cortou as asas de Henrique Alves e acabou com o seu voo rumo a uma candidatura a vice-presidente da República na chapa do tucano José Serra. Sabem quem era a autora da denúncia e fonte da reportagem da Isto É há 14 anos? A ex-mulher do próprio Henrique, Mônica Azambuja.
Da mesma maneira que 2002, Henrique Alves reagiu. Jurou inocência, mas o efeito foi devastador e esse processo apesar desse longo tempo, ficou adormecido pelas gavetas da justiça, deve ter o seu final até meados de 2017.
Ele, que havia sido convencido a desistir da disputa pelo cargo de governador, foi expelido dos planos do PSDB. Sem uma coisa nem outra, foi candidato mais uma vez a deputado federal.
Agora, Henrique Alves jura que a Isto É está mentindo. Que a reportagem da revista se baseia em “falsa premissa”. Sua defesa repudiou a reportagem da revista e seu sistema de comunicação e o kit que a esposa mantém nas redes sociais 24 horas para atacar os adversários políticos espalhou nesta sábado que o jornalista que fez a reportagem na IstoÉ com Henrique nesse fim de semana já foi condenado por difamação quando trabalhava em outro veículo numa clara tentativa de desacreditar.
A revista mostra que a reportagem foi baseada em informações do Ministério Público da Suíça e da Procuradoria Geral da República.
E tem mais.
Henrique também citado junto com o senador José Agripino no processo que investiga pagamento de propinas pela construtora OAS como retribuição pela “agilização” de pagamentos relativos à construção do estádio Arena das Dunas. As propinas, de acordo com a Procuradoria da República, baseada em delação premiada de executivos da OAS, foram pagas sob a forma de doações eleitorais. O mais novo capítulo desta história está contado na edição da revista Veja que está nas bancas.
Tanto o ex-deputado e ex-ministro e o senador juram, de pés juntos, que a doação eleitoral foi legal e uma coisa não tem nada a ver com a outra.
O que mais falta acontecer?
Eduardo Cunha está preso e os próximos capítulos para o ex-deputado e ex-ministro, não deverão ser nada fáceis. Suas aparições em público já não são tão frequentes, uma simples ida para assistir um jogo de um filho no Jerns essa semana por pouco não acabou num constrangimento grande, viagens para o exterior nem pensar e noticias que foram abortadas são constantes.
Aonde vai parar a longa lista de denúncias contra quem jurava ser um combatente a favor da democracia, um guardião dos bons costumes políticos e um eterno defensor das lutas do povo potiguar?
O tempo vai dizer…