17/03/2021
06:37

Sábado, 13 de março: “Não tinha mais bala de oxigênio [cilindros usados principalmente quando os pacientes precisam se locomover] em nenhuma UPA de Natal hoje.”

Segunda-feira, 15 de março: “Estou em um Centro Covid de Natal tentando enviar para alguma UPA um paciente que chegou com sintomas gripais e saturando 85% em ar ambiente. Todas as UPAS estão com todos os pontos de oxigênio ocupados! Liguei pra Samu, virão, porém tem 13 regulações na frente.”

Terça-feira, 16 de março: “Se a gente tem três pacientes precisando de intubação e só um ventilador, por exemplo, é escolhido o paciente com mais chances de sobreviver.”

Os relatos são da médica Alessa Andrade, que trabalha na linha de frente de combate à pandemia na capital potiguar. Ela conta que segunda-feira (15), no final da tarde, a equipe conseguiu transferir para a UPA Pajuçara o idoso do qual havia falado mais cedo, mas até isso acontecer foram 6 horas telefonando para as unidades à espera de uma vaga.

Diante da alta de casos, faltam leitos, transporte e até oxigênio. Segundo ela, durante todo o sábado não havia cilindros do gás para transporte de pacientes em nenhuma das UPAS e nem no Hospital de Campanha. A Secretaria Municipal de Saúde nega, julgando se tratar de um “equívoco”.

“Não há falta de oxigênio em nenhum UPA de Natal, as balas de oxigênio foram repostas no sábado, nos dias de abastecimento de oxigênio a SMS Natal pede que se possível o uso seja racionado”, informou, por meio da assessoria de comunicação do órgão.

A médica, entretanto, garante que passou todo o sábado na unidade e teve que lidar com essa ausência. Os cilindros são usados, por exemplo, quando o paciente precisa ir ao banheiro e quando não tem mais ponto de oxigênio nos pontos que são fixados na parede.

“A gente transportou paciente que estava saturando 85% de um setor pra outro na UPA às pressas porque não tinha o cilindro pra transportar com calma. Esses pacientes que precisam de suplemento de oxigênio não aguentam ir ao banheiro sem o cilindro do lado”, contou.

Essa porcentagem exposta pela médica se refere ao oxigênio que existe na circulação sanguínea. Quando está igual ou abaixo de 94 o paciente deve ser internado.

Crise no abastecimento é generalizada

O problema no abastecimento de oxigênio já é realidade. O Conselho Estadual de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems) confirmou que pelo menos 60 municípios relataram dificuldades para reposição do insumo.

De acordo com a presidente do Cosems, Maria Eliza, um levantamento foi realizado em todo o Rio Grande do Norte, por meio de questionário, que gerou “angústia e preocupação”. Ela detalhou que há regional de saúde com até 15 municípios afetados.

“Não precisa ter rede hospitalar pra ter a necessidade. Todo município precisa ter oxigênio na rede de serviços”, explicou Maria Eliza, que é gestora no município de Doutor Severiano.

“As variantes do vírus estão muito agressivas e acometendo pessoas mais jovens. Hoje em dia a gente usa 3, 4 vezes mais a quantidade de oxigênio usada em março do ano passado. Por isso as empresas não têm estrutura para fornecer. Não é só o RN que está com dificuldades, enfrentando um grande pico de covid. A dificuldade existe porque a demanda é grande demais. É uma realidade que nos preocupa”, disse a representante do Conselho.

A crise não se limita ao oxigênio. De acordo com Eliza, Parnamirim amanheceu sem sedativos, há escassez de bombas de infusão e elementos como luvas descartáveis tiveram alta nos preços dificultando o cumprimento dos contratos por parte dos prestadores.

 

Publicado por: Chico Gregorio

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