Circula nas redes sociais um texto que afirma que Anita Roddick, fundadora da marca de cosméticos The Body Shop falecida em 2007, descreveu uma “experiência desastrosa” com o cacique Raoni Metuktire em um de seus livros. Segundo o texto, Roddick chegou a doar US$ 10 milhões para a “ONG Cobra Coral”, que seria de propriedade de Raoni, mas descobriu que o dinheiro tinha sido usado para comprar carros de luxo e máquinas para o garimpo.
Por meio do projeto de verificação de notícias, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa:
“Essa mulher notável e muito adiante do seu tempo como defensora do meio ambiente teve uma desoladora experiência (como ela mesmo descreve em seu livro) no Brasil (…) Ao conhecer a Amazônia e as comunidades indígenas ela também foi apresentada pelo Sting ao Cacique Raoni da tribo yannomani”
Texto publicado no Facebook (ver aqui, aqui e aqui) que, até as 19h do dia 30 de setembro, tinha sido compartilhado por mais de 200 pessoas
Em seu livro “Business as Unusual – The Triumph of Ann Roddick”, a empresária inglesa conta um pouco de sua história e da história da The Body Shop, empresa que fundou e dirigiu até 2003. A partir da página 185, ela fala sobre os negócios que a empresa fez com o povo Caiapó, etnia do cacique Raoni Metuktire – ao contrário do que diz o texto analisado pela Lupa, ele é Yanomami. O livro está disponível gratuitamente na Open Library.
As coincidências param por aí. Raoni sequer é mencionado no livro. Roddick cita, no texto, dois líderes caiapós da época: Paulinho Paiakan e Pykative Pykatire. Os dois eram lideranças da Terra Indígena Kayapó, localizada no sul do Pará. Raoni, por sua vez, é originário do subgrupo dos Metuktire (às vezes grafado Metyktire), e vive na aldeia de mesmo nome, na Terra Indígena Capoto/Jarina, no Mato Grosso.
Segundo Roddick, sua relação com os povos amazônicos começou no 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, realizado em fevereiro de 1989, em Altamira, no Pará. Sting, ex-vocalista e baixista da banda The Police e ativista dos direitos dos povos indígenas, e Raoni estavam presentes neste evento, mas não são mencionados no livro.
A empresária diz que, durante o evento, conheceu Paiakan. Após conversar com ele, decidiu voltar e propor transformar os caiapós em fornecedores da Body Shop. A ideia é que eles fornecessem 6 toneladas de castanhas-do-Pará. Em troca, além do pagamento, a Body Shop investiria em equipamentos de saúde e educação para os indígenas.
De acordo com a empresária, a ideia de transformar os caiapós em fornecedores seria para evitar que eles fossem corrompidos por madeireiros ilegais, que subornavam lideranças da região para poder atuar.
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