“Enquanto a educação e a saúde nesse país forem tratadas como políticas de gestões e não políticas de estado, o Brasil estará sempre à mercê de decisões circunstanciais dos poderosos de plantão”, declarou em entrevista a coordenadora do Comitê de Pró-reitores de Graduação das Universidades Federais Brasileiras, professora Ariane Sá, condenando o desmonte em curso nas instituições no Governo Temer.
Segundo ela, “o corte orçamentário que o governo impõe as universidades federais só é visto pelo ângulo da restrição nos gastos com custeio e capital, sem que se analise o impacto que a indefinição ou, pior, o desmonte de alguns programas acadêmicos tem causado no processo de formação de futuros profissionais comprometidos com os princípios basilares do conceito de cidadania e qualificados para atender às demandas do mercado de trabalho”.
Conforme explicou, “essa tem sido a pauta permanente do Colégio de Pró-Reitores de Graduação (COGRAD), órgão de assessoramento a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais Ensino Superior (ANDIFES) tendo discutido os problemas enfrentados pelas IFES por conta do corte de recursos e encaminhado, através da ANDIFES, propostas e sugestões a Secretaria de Educação Superior (SESU/MEC).
Ela explicou que “programas importantes como o Programa de Educação Tutorial (PET), que é desenvolvido em 121 Instituições de Ensino Superior por 842 grupos de estudantes, com tutoria de docentes, cujo princípio é a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão e o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), que possibilita aos estudantes universitários atuarem nas escolas públicas e desenvolverem atividades didático-pedagógicas, sob orientação de um docente da licenciatura e de um professor da escola, desde o ano passado, tiveram cortes nos recursos que custeiam viagens, palestras e materiais pedagógicos, o que tem gerado dificuldades na execução dos dois programas bancados pelo governo federal”.
MAIS DESMONTE
De acordo com ela, o PRODOCÊNCIA, programa que apoia a criação de estratégias para o aperfeiçoamento e a criação de metodologias inovadoras para os cursos de licenciatura e o Programa de Extensão Universitária (ProExt), que estimula o desenvolvimento de projetos de extensão que contribuem para a implementação de políticas públicas, não tiveram os editais publicados para o ano de 2017 e até a presente data não foi dada qualquer explicação dos órgãos de fomento sobre os motivos que geraram a descontinuidade desses programas”.
– A Universidade Aberta do Brasil que oferece cursos de nível superior para camadas da população que têm dificuldade de acesso à formação universitária, por meio do uso da metodologia da educação a distância também vem sofrendo com corte de bolsas de tutores e de recursos para investimentos em laboratórios, comentou.
TEM MAIS
Segundo ela, “isso sem falar na descontinuidade de programas da educação básica desenvolvidos em parceria com as IFES, a exemplo do Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) e do Pacto Nacional pelo Ensino Médio (PNEM), além de programas como o PRONATEC. A interrupção desses programas interfere, de forma indireta nas IFES, pois os alunos das escolas públicas serão, em tese, num futuro próximo, graduandos das universidades públicas”.
CORTES NA PESQUISA
Em relação à pesquisa e a inovação científica, o corte de 44% no orçamento, anunciado no final do mês de março e o desmonte do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, fundindo-o com o Ministério da Comunicação, fecha o ciclo de entendimento da forma como a educação tem sido tratada pelo governo federal, afirmou.
INTERCÂMBIO NO EXTERIOR
A coordenadora do COGRAD avaliou que “a academia também foi surpreendida na última semana com o anúncio de que o governo federal não mais concederá bolsas de intercâmbio e de mobilidade internacional a estudantes brasileiros de graduação pelo programa Ciências sem Fronteiras (CsF). Previsto para beneficiar 101 mil estudantes, esperava-se que fossem ofertadas 33 mil bolsas nos anos de 2016/2017. Na contramão da expectativa, o programa lançou edital que beneficiará apenas 5 mil estudantes de pós-graduação, deixando de fora estudantes de graduação que, no processo de formação inicial, poderiam experienciar, compartilhar e aprender com sistemas educacionais competitivos conhecimentos em tecnologia e em inovação”.
Enquanto a educação e a saúde nesse país forem tratadas como políticas de gestões e não políticas de estado, o Brasil estará sempre à mercê de decisões circunstanciais dos poderosos de plantão. Essa prática de desfazer iniciativas e ações bem-sucedidas, apenas para desmerecer o antecessor, repete-se nos municípios, nos estados e no governo federal. Isso é lastimável., concluiu.
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