23/09/2016
09:15

Por  Cida de Oliveira
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Ocupações das escolas pelos secundaristas já antecipavam má qualidade do ensino refletido nos resultados do Ideb

São Paulo – A proposta de reforma do ensino médio que o governo de Michel Temer deve enviar ao Congresso nos próximos dias, em forma de medida provisória, tem tudo para repetir fórmulas fracassadas dos tempos do governo Fernando Henrique Cardoso, baseadas no empobrecimento da formação para baratear os custos. Esta é a expectativa do professor do Departamento de Educação do campus de Assis da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Carlos da Fonseca Brandão.

“Não dá para saber ao certo o que estará no projeto de reforma. Mas a julgar pela configuração do Ministério da Educação, com pessoas que foram chave nas políticas educacionais dos anos FHC, e com os projetos de corte nas áreas sociais, não se pode esperar algo diferente”, diz o professor.

No início de setembro, logo após a divulgação dos resultados da edição 2015 do Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb), no qual o ensino médio da rede pública não atingiu a meta estipulada de 4,3, ficando em 3,7, o ministro Mendonça Filho anunciou reformas. E a secretária executiva do MEC, Maria Helena Guimarães Castro, afirmou que o governo defende a flexibilização curricular, dividida por áreas do conhecimento, com um ano e meio de disciplinas comuns e o restante opcional, voltado ao mundo do trabalho. E aposta também no ensino de tempo integral. Maria Helena integrou a equipe de FHC e de governos estaduais tucanos, inclusive São Paulo.

Promoção automática

Para Brandão, o mau desempenho dos alunos no ensino médio é um dos frutos da promoção automática no ensino fundamental, em que os alunos eram aprovados mesmo sem o domínio da escrita, da linguagem e dos cálculos elementares. “Para cumprir metas estabelecidas pelo Banco Mundial, os governos neoliberais do PSDB enxugaram recursos para o ensino. O resultado é que temos hoje jovens no ensino médio que não foram alfabetizados adequadamente, que não tiveram base para a continuidade dos estudos e não assimilaram o que é básico para a compreensão de muito do que é necessário dominar no ensino médio. O que ele vai fazer na escola se nada compreende?”, questiona.

“Não há solução mágica. Qualquer experiência de escola bem sucedida mostra o que tem numa escola de qualidade. São professores com vínculo com a escola e a comunidade, que são fixos, onde a direção é ativa. Não precisa inventar a roda. Não há solução mágica para além disso.”

Defensor do ensino em tempo integral, o professor da Unesp entende que não basta manter os alunos o dia todo na escola. “As atividades do contraturno não podem ser desconectadas; não pode ser considerado ensino em tempo integral quando o contraturno inteiro é voltado para prática esportiva. Agora, ensino integral custa dinheiro. Como oferecer esse tipo de ensino sem recursos?”

Publicado por: Chico Gregorio

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