Josias de Souza
O cirurgião Raul Cutait é um dos médicos mais respeitados do país. Sondado para chefiar o Ministério da Saúde, hesitou. A família não recebeu bem a ideia. Após muita reflexão, topou o desafio. A notícia foi recebida com euforia no Jaburu, trincheira de Michel Temer. Enfim, um ministro notável. Mas durou pouco o entusiasmo. Logo se descobriu que Cutait não serve para o cargo.
O doutor cometeu vários crimes. O primeiro foi o de reivindicar que todas as nomeações para os cargos relevantes da pasta passassem por sua mesa. Se ficasse por aí, esse até poderia ser classificado como um crime menor, quase uma contravenção. Mas a coisa tornou-se grave quando, não satisfeito em querer cumprir o dever de avalizar os nomes daqueles que seriam seus auxiliares, Cutait exigiu que o critério de escolha fosse técnico, não político.
A pasta da Saúde é um dos pedaços do Estado que Temer prometeu ao PP, Partido Progressista, campeão no ranking de encrencados da Lava Jato. Informado pela assessoria de Temer de que um nome notável seria bem-vindo, o senador piauiense Ciro Nogueira, presidente da legenda, teve a grata ideia de sondar Cutait. Não imaginou que o cirurgião fosse vetar as nomeações partidárias, num claro desafio à ordem estabelecida.
A bancada federal do PP ameaçou pegar em armas se Cutait virasse ministro da Saúde. Onde já se viu privar os deputados de plantar apaniguados na vizinhança dos cofres públicos? Agora, em vez do médico acima de qualquer suspeita, o PP quer ver sentado na cadeira de ministro da Saúde um engenheiro civil, o deputado paranaense Ricardo Barros.
Ciro Nogueira já informou a Raul Cutait que ele não será mais ministro. Cometeu o crime hediondo do excesso de qualificação. Agarrou-se perigosamente ao pé da letra no instante em que pretendeu colocar em prática as melhorias teorias sobre gestão de saúde. Quis introduzir na administração pública uma nocão qualquer de eficiência —o que é antinatural.
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