Michel Temer venceu a primeira batalha. Agora, vai se defrontar com dois inimigos donos de boa capacidade de destruição — um externo; outro interno.
No front externo, terá que lidar com um PT que, bem ou mal, conseguiu nos últimos 40 dias unir as esquerdas em torno da tese do golpe. Enfrentará a campanha do “governo ilegítimo”, do “presidente sem voto”, do “mandatário que usa uma faixa presidencial emprestada”, ou qualquer outra palavra de ordem que se queira usar para atingi-lo. Terá que lidar com as prometidas invasões de terra pelo MST, as ocupações urbanas do MTST, as agitações sindicais e a fúria dos petistas desalojados do poder.
Temer não terá vida fácil, mas oposição é isso aí: não foi feita para dar sossego. Existe para perturbar o sono do governante. Só que o virtual novo presidente da República, tem à sua frente um abacaxi que não se descasca com facilidade: é o seu próprio entorno.
O tal ministério dos notáveis, expressão que circulou por aí soprada por peemedebistas nas últimas semanas, é muito mais fácil de existir no campo dos sonhos. A conversa é outra na crueza da divisão de cargos cobrada pelos aliados do PMDB e dos outros partidos, todos famintos por migalhas maiores e menores da administração federal.
É só, por exemplo, começar a circular uma notícia de que um novo presidente da Petrobras será indicado por Romero Jucá para que o seu governo ganhe, de saída, uma marca velhaca difícil de mudar. Ou que o notório Eduardo Cunha tenha condições de indicar mesmo um porteiro de um posto do INSS para qualquer esperança começar a ruir.
Cunha é, aliás, um problema em si. Temer terá que, em algum momento, dizer publicamente o que pensa do presidente da Câmara, sem tergiversar. Sua respeitabilidade como governante passará por essa tomada de posição.
Ninguém imagina que Temer fará um governo sem abrir cargos para indicações do PMDB ou de partidos que o apoiaram. Não se trata disso. Mas, assim como é ilusório um ministério de notáveis, é obrigatório que Temer blinde alguns ministérios e postos de maior relevância, como o Banco do Brasil e Petrobras, do toma-lá-dá-cá habitual.
É um desafio e tanto. Não se pode esquecer que um dos problemas que fizeram desandar o governo Dilma foram justamente os malfeitos dos companheiros petistas.
LAURO JARDIM
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