07/12/2015
16:42

Por Fernando Antônio Bezerra.

Foto: Luiz Mariz (zona rural de Serra Negra do Norte)
Foto: Luiz Mariz- Serra Negra do Norte)

O principal limite do sertanejo é a sua própria porteira. É a tranca de seu mundo ou a porta que se abre para receber novas esperanças. Em torno da porteira do sítio ou do curral, a vida vai passando, mudando, melhorando ou piorando, sendo gasta pelos sofrimentos ou prolongada pelas alegrias. E a porteira como testemunha…

Testemunha das vezes que o sertanejo sai para tratar de uma burocracia que é a mesma para ele e para o fazendeiro do sul e do centro-oeste. Lá, fazendeiro é empresário, com técnicas e aprumos. Aqui, sertanejo é sobrevivente, lutador das causas que poucos acreditam. Alguém que, em anos de seca, precisa escolher entre a feira no mercado ou a compra de ração no armazém. Aqui, diferente de lá, o gado anda, anda e, na maioria das vezes, volta do pasto com fome. O sertanejo precisa comprar ração para alimentar o patrimônio que lhe dá – se estiver comendo e bebendo bem – leite e carne. E a ração chega de longe, com todos os preços que menino besta não sabe esmiuçar porque traz a carga da produção, do transporte, dos impostos e da indiferença com quem planta e cria.

A porteira, com os olhos da natureza de onde veio, a tudo assiste. No mourão que lhe segura, não raro, até bem pouco tempo, tinha umbigos de crianças enterrados, restos do cordão que os manteve vivos na mãe que agora, pela tradição, simbolizam nova ligação com a terra dos que chegaram primeiro. Na escuta do tempo, rodas rangidas com o peso do capim diariamente retirado das vazantes dos açudes para alimentar o rebanho. É a forma que tem o sertanejo de economizar a ração por ele plantada, ou seja, retirando-a em quantidades que lhe permita chegar ao inverno e, próximo dele, soltar o gado para pastejo entre talos e rebrotas, torcendo para que a área logo seja vestida pelas águas que reanimam a vida.

E, sabendo criar, como sabe, o Seridó, mesmo corridos anos de impiedosa seca, ainda tem gado gordo para abate. Não sei até quando. O agouro sobre 16 faz medo! Mas, cada dia tem sua agonia e quem tem maiores responsabilidades com a direção do povo deve estar pensando no que é possível fazer. É um desafio para o homem e um exercício de persistência para a fé. Creio, particularmente, que Deus, por linhas de conforto ou por soluços de dor, não se afastará da história. Há lições que ainda não aprendemos ou mensagens que teimamos em ignorar.

De todo modo, o sertanejo quer ficar em seu lugar e, apesar de tudo, ninguém é tão lutador e otimista quanto ele. Espera que o apoio chegue e não apenas para os que são assentados e pronafianos. Quase todos estão do mesmo tamanho. Ninguém quer passar o cadeado na porteira. Mesmo escanchada pela seca; sofrida pela indiferença dos que não encontram o chão nordestino no mapa do Brasil; penalizada pelos privilégios que dirigem o dinheiro público para futilidades e injustiças, nenhuma porteira deseja o cadeado do fim. Nem a porteira, nem o sertanejo.

Publicado por: Chico Gregorio

0 Comentários

Deixe o seu comentário!