02/09/2015
04:41

BBC – Leandro Roque de Oliveira era chamado de “macaco” pelos colegas de escola. Não raro, o seu cabelo crespo era alvo de chacota. Dava raiva, mas ele não sabia como responder – então, dava socos. Até se cansar de brigar e abandonar a escola na terceira série.

'Todo mundo está acostumado na realidade brasileira a ver os pretos numa prisão perpétua atrás de uma vassoura', diz Emicida
‘Todo mundo está acostumado na realidade brasileira a ver os pretos numa prisão perpétua atrás de uma vassoura’, diz Emicida

Os anos passaram, e Leandro virou Emicida. E, agora, tem na ponta da língua a resposta para os comentários que ouvia na escola – e que ainda são frequentes. O ‘matador de MCs’ – origem do apelido “Emicida” – usa o rap para “matar” aos poucos o racismo que ele mesmo ainda sente na pele “toda vez que vai pegar um táxi”.

“Em geral, as pessoas não conseguem entender o que é. A pior coisa do mundo é alguém ter medo de você, e você não representa ameaça nenhuma para essa pessoa. Você chegar para perguntar que horas são, e a pessoa esconder a bolsa”, disse o rapper em entrevista à BBC Brasil.

“Para mim, o racismo é o tema mais urgente hoje no Brasil”, opinou.

Nascido em um bairro pobre da zona norte de São Paulo, o rapper conta que cresceu “zombando da morte” em um ambiente onde ser abordado – e até agredido – pela polícia era coisa corriqueira. “Era tão normal, que a gente falava disso e ria depois”, diz.

“Salvo pelo hip hop e pela leitura”, segundo ele próprio, o rapper não quis se distanciar da realidade que canta em sua música e hoje mantém a sua gravadora independente – “Laboratório Fantasma” – em Santana, perto da “quebrada” onde nasceu.

Agora que acumula milhões de visualizações em clipes no YouTube e faz shows até na Europa, Emicida se sente na obrigação de falar sobre racismo.

“Todo mundo está acostumado, na realidade brasileira, a ver os pretos numa prisão perpétua atrás de uma vassoura”, afirma.

Publicado por: Chico Gregorio

0 Comentários

Deixe o seu comentário!