Artigo publicado pelo Advogado Fernando Antônio Bezerra.
O Brasil, naquele ano, já sentia os ventos da redemocratização, apesar das regras eleitorais que incluía, dentre outras limitações, o voto vinculado, ou seja, o eleitor era obrigado a votar em todos os candidatos de um mesmo partido, de Governador a Vereador. Podia também deixar em branco, anular ou deixar de votar para algum cargo. Os que acompanham a cena política lembram, por exemplo, do “voto camarão” onde o eleitor era estimulado a não votar no candidato a Governador. Sobre este aspecto da lei a análise predominante, dentre vários estudiosos, é no sentido de que a regra foi criada para beneficiar o PDS (Partido Democrático Social), agremiação que apoiava o Governo do então Presidente João Baptista de Figueiredo. No resultado geral, contudo, o PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) elegeu importantes Governadores como Tancredo Neves (MG) e Franco Montoro (SP). Leonel Brizola, no pequeno PDT, conseguiu se eleger Governador do Rio de Janeiro. Mas, em Caicó, o PDS foi vitorioso. Aliás, não apenas em Caicó, mas no Rio Grande do Norte, o PDS conseguiu eleger José Agripino Maia para o cargo de Governador do Estado, Carlos Alberto de Souza para o Senado Federal e a maioria dos Deputados Federais, Estaduais, Prefeitos e Vereadores. O adversário de José Agripino, naquela eleição, foi Aluízio Alves (PMDB).
Em Caicó o candidato a Prefeito pelo PDS era Vidalvo Dadá Costa, irmão do então Deputado Estadual Vivaldo Costa. O candidato a Vice foi Darcy Fonseca. O PMDB apostou em dois nomes para Prefeito: José Josias Fernandes e Oberdan Damásio Santos. As regras da época permitiam o que se chamava “sublegenda”. Somavam-se os votos dados aos dois candidatos contra o concorrente do outro partido. O candidato a Vice-Prefeito poderia ser o mesmo e o nome do PMDB na época, tanto para José Josias, quanto para Oberdan, foi Walfredo Lopes (Barra de Isaías).
Dadá Costa residia fora de Caicó. Regressou para ser candidato a Prefeito em uma articulação bem feita conduzida, por seu irmão Vivaldo Costa, que contou com a aprovação do Senador Dinarte de Medeiros Mariz, naquela época um dos maiores líderes do PDS no Brasil! Dadá Costa também contou com o importante apoio de Irami Araújo que, em 1982, além de ser Prefeito Municipal, vivia dias de muita popularidade na cidade. Aliás, o último discurso da campanha, já pela manhã em frente ao Mercado Público, depois de uma noite de passeatas e comícios, foi de Irami Araújo, tamanha era sua importância naquela campanha. Outros líderes do dinartismo também apoiaram Dadá Costa que, como candidato, somou juventude à continuidade da tradicional bandeira vermelha em Caicó.
Quem também voltou a Caicó naquele ano foi o advogado Revil Alves que até tentou ser candidato a Prefeito em uma sublegenda do PDS, mas não obteve êxito. Em uma reunião na Câmara Municipal de Caicó, no antigo Fórum Municipal, o Senador Dinarte Mariz foi taxativo: o PDS teria apenas um candidato a Prefeito. Revil foi candidato a Vereador, terminando suplente, inaugurando uma série de eleições onde disputou diferentes cargos. Os eleitos do PDS em 1982 para a Câmara de Caicó foram: Avelino Batista de Medeiros, Edevaldo Adolfo Maia, Francisco Gregório de Azevedo, Hamilton Teixeira de Araújo, Manoel Damásio dos Santos, Paulo Roberto de Oliveira, Paulo de Brito e Paulo Germano.
Os candidatos do PMDB, por sua vez, contavam com o apoio de Manoel Torres de Araújo que, apesar do insucesso eleitoral de seus candidatos em Caicó, conseguiu se eleger Deputado Estadual naquele ano. Manoel Torres, aliás, era um dos mais firmes apoiadores de Aluízio Alves em todo o Rio Grande do Norte, mesmo sabendo de todas as dificuldades da campanha e as poucas chances de vitória. Em Caicó, foram eleitos, pelo PMDB, os seguintes Vereadores: Ivanor Pereira, José Furtunato Sobrinho, José Alencar, Joaris Silva e Luciano Vale.
Naquela época o PMDB reconhecido como mais progressista tinha especial interesse na campanha de Oberdan Damásio. Nomes como Roberto Furtado, Gileno Guanabara, Hermano Paiva e Wober Júnior constantemente se reuniam em Caicó e, de fato, constituíam – com Oberdan – um grupo próprio no âmbito peemedebista. A temática do candidato, com a inclusão de bandeiras nacionais no debate municipal, demonstrava seu alinhamento com a pauta mais à esquerda defendida por líderes do PMDB de então.
O ano de 1982 marca, enfim, algumas mudanças na vida pública caicoense. Resumidamente, dentre outros registros a destacar: foi em 1982 a última eleição municipal com a presença do Senador Dinarte Mariz; foi também a última vez que José Josias Fernandes disputou um cargo público; houve uma significativa renovação na Câmara Municipal de Vereadores; a vitória de Dadá Costa credenciou, naquele período, Vivaldo Costa como líder do sistema dinartista em Caicó. Muitas coisas que aconteceram na vida pública caicoense nos anos seguintes foram consequências dos acertos e desacertos, vitórias e derrotas ocorridas em 1982, mesmo considerando que cada eleição tem sua própria história!
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