João Doria virou o “pai” da paralisação brasileira quando, em conjunto com o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, do mesmo partido (PSDB) e apadrinhado por ele, determinou a quarentena atual em 21 de março. Pela importância de São Paulo, isso detonou um “efeito dominó” em outros estados e capitais.
Na tarde desta quarta (22), o governador de São Paulo anunciará um plano de saída do isolamento, de novo o primeiro estado a fazer isso. O político tucano conversou sobre esse e outros assuntos com a Folha por cerca de 50 minutos nesta terça (21), por teleconferência.
Como não errar a mão na duração da paralisação, uma vez que, diz a lógica política, quanto maior a quarentena no país, maior o estrago na economia, portanto maior a sua chance de vitória nas eleições presidenciais de 2022?
Obedecendo à ciência. Aqui seguimos rigorosamente o que a ciência e a saúde determinam. Nem a política nem a economia. São Paulo saiu na frente porque a recomendação da ciência foi nesse sentido. E isso nos permitiu ter uma curva 30% mais baixa do que a do Brasil.
Não há economia que possa sobreviver a um saldo de mortes, em que pessoas padecem, sofrem, perdem vidas, amigos que se vão, familiares que são sepultados, a um cenário macabro. Preciso primeiro salvar vidas. Salvando vidas, salvaremos também a proteção social, aqueles que precisam de ajuda nesse momento para sobreviver.
Na sequência vem a recuperação econômica, lembrando que o isolamento em São Paulo foi o mais leve de todos os implementados pelos estados. Foi bastante bem planejado para permitir que as atividades essenciais fossem preservadas, seja pelo abastecimento no dia a dia das pessoas, seja para garantir minimamente que empregos pudessem ser mantidos e atividades pudessem funcionar, seguindo o protocolo de saúde.
Exemplo concreto: todas as fábricas de qualquer tipo de produto em São Paulo estão abertas e em funcionamento, não apenas as de alimentos e produtos de higiene e limpeza. Nunca foram fechadas. Exatamente para permitir não só o abastecimento mas preservar empregos e atividade econômica. Não há vínculo político. Não sigo aqui orientação da política, mas a saúde e a ciência. Assim seguiremos.
O Datafolha mostrou que 17% dos eleitores de Jair Bolsonaro se arrependem de ter votado nele. Na reta final das eleições de 2018, o sr. ligou sua imagem à do presidente e se beneficiou eleitoralmente disso. É um dos arrependidos?
Sim. Fiz campanha me posicionando contra esquerda, o PT. O outro candidato era Jair Bolsonaro. Por ser candidato, eu tinha que ter um lado, que não poderia ser o do nulo ou em branco. Nunca fiz isso.
Mas não tinha a perspectiva de ter um presidente que pudesse vir a ter comportamentos tão irresponsáveis, tão distantes da verdade, tão condenáveis sobretudo numa situação de pandemia como essa. Há quatro mandatários assim [no mundo]. Três são ditadores, um da Nicarágua e dois de repúblicas que pertenceram à União Soviética [Belarus e Turcomenistão]. Esses três ditadores negaram a pandemia e vêm orientando equivocadamente as populações.
E o outro foi o presidente Jair Bolsonaro, que felizmente não conseguiu implementar a sua irresponsabilidade, pois os 27 governadores dos estados tiveram uma posição oposta e defenderam a vida.
O sr. já chamou o ex-presidente Lula de “preguiçoso” e “covarde”. No começo do mês, porém, trocaram declarações elogiosas. Não teme que isso cobre um preço em 2022?
Não estou preocupado com 2022. Estou preocupado em salvar vidas, e, na sequência, recuperar a economia. Não há sentido político, eleitoral, ideológico no que tenho feito, e tenho certeza que os que estão no caminho certo têm este sentimento.
O sr. pode adiantar algo sobre o plano de saída a ser anunciado? As escolas reabrirão?
Vamos enunciar algumas dessas medidas amanhã [quarta-feira, 22], mas não vamos detalhá-las, porque vamos seguir os passos da ciência, que orienta fazer isso mais adiante. Primeiro, vamos medir o resultado do isolamento, se a população está respondendo bem. Até aqui diria que, na média, sim. Mas é importante que ela continue para alicerçar este programa que virá depois da quarentena, após 10 de maio.
Segundo: analisar quantas pessoas estarão infectadas nas próximas duas semanas e quantas infelizmente virão a óbito. Terceiro: capacidade de atendimento e suporte da saúde pública e privada no estado de São Paulo. Isso será diário, e a troca de informação entre a saúde e a economia serão ainda mais intensas.
Por isso, amanhã [quarta] nós vamos dar o enunciado para a população, mas os detalhes e as fases deste protocolo, que será heterogêneo, só serão anunciados no dia 8 de maio.
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