Na discussão sobre a formação da coligação entre partidos em busca de competir numa eleição, absolutamente tudo é negociado.
Os partidos maiores, por terem maior capacidade de arrecadação, ficam responsáveis pela captação de recursos. Mas não apenas isto. Em outros casos, a agremiação cabeça de chapa cuida também dos serviços de campanha, tais como a contabilidade eleitoral, pesquisas, advogados, etc.
Você pode até conservar sua reprovação moral contra o modelo. Mas não é possível chamar isto pura e simplesmente de “compra de tempo de tv”, ainda que, obviamente, a atração de maior tempo de tv esteja em jogo.
Estamos falando de uma aliança forte, no qual, ao menos até a eleição, os partidos funcionarão como uma organização única (ou ao menos tentarão). E dinheiro também é debatido.
Conforme o MPF, o PT pediu a odebrecht para arrumar recursos para outros partidos. Ora, é bem possível que seja verdade, mas esta prática é corriqueira e tem um viés prático – partidos maiores e mais organizadores estruturam a competição, atraindo os menores com seus recursos materiais, bases políticas e organizacionais – e não essa perspectiva criminosa que o ministério público tenta imprimir à relação.
Tal interação não é uma exclusividade de um partido, nem muito menos do sistema partidário brasileiro. Vocês acham que em outros países, quando partidos se juntam, dinheiro e organização de campanha não são negociados, não são aspectos postos na mesa? Política não é franciscanismo. E tudo onera a campanha.
Na política profissionalizada, debater quem vai pagar a conta e como a campanha vai ser tocada não são problemas invalidadores da democracia. Pelo contrário. Não há como tocar o barco sem acertar os ponteiros, inclusive financeiros.
Essa criminalização não é boa. Primeiro e antes de tudo porque se assenta em falsos argumentos. E também pela razão de tentar substituir a arena política por uma lógica inexistente – qual é a democracia que não depende de dinheiro? – e por atores sem voto.
PS. A doação pode ter sido não contabilizada. Neste caso, o crime é de caixa 2 e não de “compra de tempo de tv”. Há uma tentativa de inflar o cenário adverso.