09/11/2016
10:52

Folha de S.Paulo – Por Mario Sergio Conti –

Se antes faziam figura de paladinos silenciosos da Justiça, Sergio Moro e Deltan Dallagnol deram agora para falar. Eles revestiram a sua loquacidade com a exaltação apolítica do bem geral. Na verdade, respondem a dois fatos políticos concretos.

O primeiro: a delação da Odebrecht periga pegar na testa da burguesia. Ela irá escancarar que grandes empresários corromperam e nobres políticos foram corrompidos. Juntos, eles aparelharam o Planalto e o Congresso –e agora nos mandam trabalhar mais e ganhar menos.

O segundo fato: para proteger seu poder de mando, os beneficentes e beneficiários do caixa 2 urdem uma autoanistia geral e irrestrita. A articulação dos dois fatos abala o poder de Dellagnol e Moro.

Dallagnol defendeu, num artigo na Folha, que é um “disparate!” (com exclamação) dizer que a Lava Jato foi partidarizada. A resistência a punições, porém, surgiu só depois de Dilma ter sido afastada e Lula incriminado. A postura apolítica fica menos crível na boca Moro.

Afinal, o juiz ordenou a exposição, ilegal e fora do prazo que ele mesmo estipulara, de um telefonema da presidente. No plano jurídico, fez troça da presunção da inocência de Dilma. No político, inviabilizou que Lula fosse ministro. Sem o seu atropelo, a história teria sido outra.

Numa entrevista a Fausto Macedo e Ricardo Brandt (“Estadão”, 6.nov), Moro fez política o tempo todo. Disse que tem poder –”o apoio da opinião pública tem sido essencial”– e defendeu que o Congresso aprove dez medidas específicas, além de pôr fim ao foro privilegiado de parlamentares e governantes.

Foi de um corporativismo que mal coube na palavra “muito”. Teori Zavascki, que não o puniu por ter alardeado a gravação de Dilma, “tem feito um trabalho intenso, muito importante e relevante”. O magistrado que Renan Calheiros chamou de “juizeco” é um “colega muito sério e competente”. O projeto que pune abusos de juízes precisa ser “muito melhorado”.

Publicado por: Chico Gregorio

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