Se de fato o River Plat e decidir guardar sua formação titular por 13 dias e poupar jogadores na quinta-feira, pela Copa Argentina, seu ensaio final antes de decidir a Libertadores com o Flamengo terá deixado uma impressão ruim: a derrota de domingo para o Rosario Central em Buenos Aires. Já os rubro-negros saíram do Maracanã com uma daquelas vitórias que reforçam ainda mais um nível já elevado de confiança. Num domingo em que os dois rivais na decisão de Lima foram submetidos a testes similares, o Flamengo se saiu melhor.
Ambos enfrentaram rivais dispostos a defender a área: o Flamengo encontrou soluções e o River voltou a travar diante deste tipo de desafio. O contraste pode soar animador para o torcedor rubro-negro. Mas a trajetória recente mostra que este River, há cinco anos e meio sob o comando de Marcelo Gallardo, é capaz de bem mais do que exibiu no último fim de semana. Tanto tempo de trabalho traz solidez ao modelo.
Jorge Jesus implantou um padrão notável em menos de cinco meses. Mas neste domingo à noite, quando coube ao rubro-negro resolver problemas com que o futuro oponente não conseguira lidar em Buenos Aires, o que ficou reforçada foi a sensação de que a grande diferença pode estar nos recursos individuais, na qualidade técnica. Ainda mais numa final única.
Há várias similaridades entre os modelos de jogo de Flamengo e River. O time de Gallardo é fiel ao 4-1-3-2, sistema que Jesus alterna com o mais habitual 4-4-2; ambos têm duplas de atacantes de mobilidade; os dois times gostam de pressionar o rival para tentar recuperar a bola em campo ofensivo e, em passes rápidos, chegar ao gol. Outra curiosidade, ambos usam, em sua linha de meias por trás dos atacantes, jogadores que partem do lado do campo com o pé invertido: ou seja, o destro parte da esquerda, o canhoto da direita. O que não significa que façam tudo igual.
Mas no domingo, foram submetidos a roteiros parecidos. Contra o muro do Rosario, o River tentava juntar os meias Ignácio Fernández, Exequiel Palacios e De la Cruz pelo centro, para que trocassem passes rápidos. Com a entrada da área bloqueada por três jogadores de marcação, a movimentação da bola ficou lenta. Enzo Perez, iniciador das jogadas, não dá tanto ritmo ao time. Palacios, o meia central, e Fernández, que parte da direita, são ótimos organizadores, enquanto De la Cruz, que parte da esquerda, é rápido e móvel. Mas estiveram tecnicamente abaixo. Houve muito volume e poucas chances.
Já o Flamengo saiu da enrascada com uma mistura de qualidade técnica e recurso tático. No segundo tempo, à entrada de Reinier se somou uma movimentação de Gabigol. Ele se colocava entre o lateral-esquerdo Moisés e o zagueiro Juninho. Por vezes, buscava a ponta e permitia a Éverton Ribeiro fazer movimento inverso, para o meio. A partir daí, o Bahia muito bem organizado por Roger começou a se desestruturar.
Talvez tais desafios não se repitam em Lima, onde não se espera qualquer dos dois times trancados atrás. Mas ficou um alerta: assim como o River, o Flamengo se expôs a contragolpes, em especial nas costas dos laterais. A dupla de ataque dos argentinos, em especial Matías Suárez, pode causar grandes problemas ao partir do centro do ataque para o lado do campo, buscando o duelo, por exemplo, com Rafinha e Rodrigo Caio.
O Flamengo, que sabe ser rápido com a bola, pode expor a defesa do River Plate. Mas confundir rapidez com pressa será pecado mortal. Porque, com espaço, o time de Gallardo pode chegar com rapidez e facilidade ao gol. O domingo foi apenas um recorte, não uma garantia de que o Flamengo será dono do jogo no Peru.
O GLOBO
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