18/09/2019
10:59

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Em último ato à frente da Procuradoria Geral da República (PGR), Raquel Dodge apresentou denúncia de irregularidades na condução do caso dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes. A procuradora-geral da República pediu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) a abertura de um novo inquérito para apurar o crime que completou um ano e seis meses no último sábado (14). Segundo Dodge, a denúncia cita desvio de investigações para não revelar organização criminosa, inserção de declarações falsas em documentos oficiais e outros crimes relacionados a fraude processual.

Os nomes apontados na denúncia sob a acusação de “encenação de investigação” para conduzir a falsos mandantes do crime são: Domingos Brazão, conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE –RJ); Gilberto Ferreira, funcionário do gabinete de Brazão; Rodrigo Ferreira, policial militar que apontou o vereador Marcelo Siciliano e o miliciano preso Orlando de Araújo como mandantes do crime; Camila Nogueira, advogada de Ferreira, e Hélio Kristian delegado da Polícia Federal.

O pedido da procuradora para federalizar o caso foi feito após a análise da tentativa de obstrução das investigações. No entanto, o processo de federalização do crime contra Marielle e Anderson está em análise desde o ano passado. Qualquer mudança na condução do inquérito precisa de autorização do STJ.

Os pais da vereadora Marielle, no entanto, são contrários à federalização das investigações do crime que provocou também a morte do motorista Anderson Gomes. Para o pai de Marielle, Antônio Francisco Silva Neto, a transferência das investigações para o âmbito federal é desnecessária, após um ano e meio de condução do caso pelas autoridades do Rio de Janeiro. Ele questionou a proposta de federalização feita pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge faltando pouco tempo para ela deixar o cargo.

“Por que vai para a esfera federal começar um inquérito que já tem esse longo período de investigação? Acho que não é necessário. Nós acreditamos nas autoridades no Rio de Janeiro, que já deram passo importante na prisão dos dois envolvidos. Por que agora, no final do mandato dela, pedir a federalização? Não vejo necessidade. Confiamos no pessoal do Rio de Janeiro, que já têm envolvimento com o pessoal da Polícia Federal na investigação. Se ela tinha esse interesse, deveria ter feito o pedido antes e não no final do seu mandato”, disse durante uma entrevista na sede da Anistia Internacional Brasil, na zona sul do Rio.

A advogada Marinete Silva, mãe de Marielle, reforçou o argumento. Segundo a mãe, a federalização não faz sentido no momento e seria um processo mais doloroso para as famílias. “Não tem por que sair. Até porque, isso indo para a esfera federal hoje, a gente não sabe na mão de quem vai cair este processo.”

“Se tem uma investigação há um ano e seis meses, integrada com a Polícia Federal, não há por que sair do estado onde aconteceu todo o crime para ir à esfera federal”.

Conforme a diretora executiva da Anistia Internacional Brasil, Jurema Werneck, o que deve existir é uma integração das autoridades envolvidas com poderes investigativos. “Nós não opinamos quem deve estar à frente da investigação. O que nós dizemos é que quem quer que seja tem que trabalhar de forma integrada e cooperada para trazer as respostas o quanto antes”, disse.

Ao Brasil de Fato, Marinete Silva, mãe da parlamentar assassinada, disse que passar o caso para a esfera federal atrasaria ainda mais a investigação.

“Imagina se começa um novo processo para se inteirar do que tem nele com 18 volumes, por enquanto. E está na segunda etapa já, esses homens [Ronnie Lessa e Élcio Queiroz] vão ser ouvidos agora, dia 4 de outubro. Já está caminhando para sabermos daqui a uns dias a respeito do júri. Queremos que eles sejam condenados e também queremos saber o mandante. Com a federalização fica mais longe da gente saber quem é esse mandante porque vai sair do nosso controle”, explicou Marinete.

Publicado por: Chico Gregorio

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