18/07/2018
07:33

Mesmo sendo o foco de pesquisas, livros e documentários nos últimos anos, a guerrilha do Araguaia permanecia como um dos episódios mais obscuros (e sangrentos) da ditadura militar. Um dos casos, até então inédito, chama a atenção. Um militar encarregado de fuzilar uma guerrilheira se apaixonou por ela. Eles se beijaram pouco antes da execução. Mas isso não o impediu de cumprir a tarefa (leia abaixo).

“Ela ficou me olhando nos olhos, chorando. Eu não aguentei e chorei muito. Caí em prantos. Ela chorava, mas ficou firme, de pé, aguardando sua hora. Tirei a arma e apontei pra cabeça”, relatou o militar Robson, um dos entrevistados do livro “Borboletas e Lobisomens – Vidas, Sonhos e Mortes dos Guerrilheiros do Araguaia”.

Circunstâncias desconhecidas do conflito, como este caso, foram elucidadas pelo jornalista, historiador e professor Hugo Studart no livro lançado nesta terça-feira (17), em Brasília.

Studart chegou à conclusão de que 77 pessoas foram mortas no conflito: 29 guerrilheiros em confronto, 22 executados por soldados, um “justiçado” pelos guerrilheiros, 15 camponeses e 10 militares.

O jornalista se debruçou sobre o assunto por quase 10 anos, vasculhando mais de 15 mil documentos, cruzando dados oficiais e testemunhais e conversando com mais de 150 pessoas.

Durante a ditadura, um grupo de militantes do PC do B se embrenhou na floresta amazônica, entre o Pará e o Tocantins, e começou um foco de guerrilha contra o governo militar. A intenção era criar um território independente. Mais de 4 mil homens das Forças Armadas foram mobilizados para exterminar os cerca de 100 integrantes do movimento.

Áurea e Robson

Um militar, de codinome Robson, foi destacado para fuzilar a guerrilheira Áurea Eliza Pereira, de codinome Áurea. Ela havia sido capturada por homens do Exército, e estava magra e doente. Depois de três dias de interrogatório, ele acabou se apaixonando pela militante. Robson não teve o sobrenome divulgado no livro.

Quando recebeu a ordem de fuzilar Áurea, Robson titubeou. A chamou para “tomar uma cerveja e dançar a noite inteira”. Naquela momento, a guerrilheira já estava dentro de um buraco, onde ocorreria a execução. Ela chorou e pediu para que ele não lhe desse esperanças.

Robson baixou a escada para Áurea sair do buraco. Os dois se beijaram e se abraçaram, chorando. Então o militar sussurrou no ouvido dela: “agora você vai ter que descer”. Ela desceu.

Os dois se olharam nos olhos durante todo o tempo. E então ele a alvejou.

“Quando um homem sabe que é sua última refeição, ou o último beijo, ele fica comovido e aproveita. Mas quando é o último beijo de uma mulher, ela se entrega inteira. Nunca conheci uma mulher com tanto amor quanto a Áurea”, relatou o militar em depoimento ao livro. Ele diz que se apaixonou por ela e “quer acreditar” que ela se apaixonou por ele.

Leia o trecho do livro “Borboletas e Lobisomens – Vidas, Sonhos e Mortes dos Guerrilheiros do Araguaia”, de Hugo Studart:

O beijo da morte

 

Publicado por: Chico Gregorio

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