Beatriz Cerqueira: Alguém escutou quem de fato a reforma vai atingir? Não.Em 26 de abril de 2017, deputados de oposição foram à mesa da Câmara para protestar contra a votação da reforma trabalhista. O presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEm-RJ), deu um tapa em um caixão da carteira de trabalho de um dos deputados. Fotos: Lydiane Ponciano/Sind-UTE/MG e Lula Marques/AGPT, via Fotos Públicas
É preciso falar sobre a reforma trabalhista
Beatriz Cerqueira, no Brasil de Fato, em 03/05/2017
Durante um tempo, encontrávamos com a atendente de lanchonete com a barriga cada vez maior. Estava grávida. O natural seria que parássemos de vê-la por, no mínimo, quatro meses. Mas, logo após o nascimento da criança, ela voltou ao trabalho. Quando foi questionada por uma colega nossa respondeu que não poderia ficar sem o emprego. Não poderia ficar quatro meses “afastada”.
Um amigo, ao entrar numa loja que vende eletrodomésticos, descobriu que a vendedora não tinha salário. Sua renda dependia, exclusivamente, da comissão do que ela conseguisse vender, mesmo que as condições de pagamento e o preço cobrado pelo produto não dependessem dela. Em síntese, ela não tem salários mas se não estiver satisfeita, “só pedir para sair”.
Em um banheiro de aeroporto, presenciei a conversa entre uma auxiliar de limpeza e uma funcionária do estacionamento. Uma delas contava do revezamento que a família estava fazendo para acompanhar alguém da família que estava doente e internado. Dizia da dificuldade que era quando a sua vez não caía num dia de folga: a empresa não aceitava atestado médico. E ainda dava advertência.
Durante uma fiscalização do Ministério Público do Trabalho, conheci rapazes com 18 anos que eram contratados por empreiteiras no Norte de Minas Gerais. Abandonavam a escola para trabalharem na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Contaram que parte do salário não vinha no contracheque, “era pago por fora”. Que cada um fazia sua própria comida, que era consumida, em geral, após as 15 horas, na rua mesmo. E não eram raras as vezes em que a comida já estava azeda. Quando iam completar um ano de trabalho na empresa, a “casa falia” e eram recontratados por outra empresa. A situação se repetia e ficavam anos sem férias e outros direitos.
Na Assembleia Legislativa de Minas Gerais já presenciei trabalhadores que continuavam prestando serviço sem saber quem era o patrão, uma vez que o contrato da terceirizada havia terminado. Atrasos ou mesmo não pagamento de direitos e benefícios também são comuns por lá.
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