O organograma apresentado pelo MPF, em que coloca Lula como peça central do chamado petrolão, é antes de tudo a caracterização de uma arrogância imbecil e ignorante sobre o modo de funcionamento do presidencialismo de coalizão, em particular, e da política como um todo, de maneira geral. Bem que alguém poderia mandar o link do texto do Sergio Abranches para os senhores do MPF.
Ao assistir a pomposa demonstração, fiquei com a impressão de que, em algum momento, o tal Deltan iria clamar por indicações técnicas nos cargos de primeiro escalão. Aviso: foi ironia.
Pela visão higienizadora do Estado, que desconsidera o elemento político que lubrifica a máquina, através do voto popular, o discurso dos procuradores é uma chuva de preconceitos contra partidos políticos, formação de coalizões e, numa situação final, contra a democracia.
Ora, desde 1988, Abranches mostrou que, no nosso sistema multipartidário, a coalizão vencedora de agremiações administra diversas áreas da máquina estatal. Não estamos falando aqui de uma bodega. Atenta, nesse sentido, contra a lógica mais superficial colocar alguém como o “líder máximo” de um esquema de corrupção, se levarmos em conta a complexidade das instituições, empresas públicas, superintendências, ministérios, etc, espalhados por um território continental e com milhares de pessoas diretamente relacionadas.
Porém, não acredito em maldade deliberada dos procuradores, ainda que um ou outro se regozije com o possível desenrolar dos fatos. A questão está na concepção de política, Estado e do próprio papel que os membros do MP acreditam carregar. O parquêt atribui a si próprio uma missão messiânica, envoltos pela ideia de que a política é suja e o Estado algo distante da noção de voto. Uma imunização enxergada como meio de salvação do erário bem catalogada do ponto de vista de sua origem social.
O interessante, no sentido de ser contraditório, nessa história é que, ao mesmo tempo em que Lula é apontado como o “líder máximo” e portador de poderes voluntaristas onipresentes, é acusado por uma reforma em um apartamento que ele alega não ser seu – e até o presente momento não foi provado o contrário -, e o uso de um galpão emprestado. As versões dadas pelo próprio MP – a do líder supremo e a acusação efetiva – não batem.
Com isso, fica em segundo plano aqueles que, de forma prática e já conhecida, depenaram comprovadamente a viúva: os Youssefs, Baruscos e Paulo Robertos da vida, sempre encontrados com as mãos nas botijas milionárias.
Pequeno parêntese: que interação tem a acusação efetiva, por exemplo, da reforma do apartamento que supostamente seria do Lula com o roubo já assumido pelo gerente da Petrobrás, o delator Pedro Barusco? Absolutamente nenhuma. Por qual razão, então, procurar um “líder supremo”?!
Voltando. Desvendar o esquema de corrupção parece ser a razão de ser do Ministério Público, mas desde que a base do problema esteja na política. É em cima deste falso pressuposto que está escorado o castelo de cartas do MP.
DIREITO DE PERGUNTA
Como é que os milhares de cargos em comissão são preenchidos pelos membros do MP estaduais e brasileiro no país? Eles deveriam emprestar a fórmula mágica, se é que aplicam alguma a si próprios.
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