08/05/2016
09:41

IndiosPrática comum na ditadura, a repressão de conflitos agrários pelo Exército voltou à pauta na segunda-feira 25 em uma reunião da Frente Parlamentar de Agropecuária. Após votarem em peso pelo afastamento de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, os integrantes da bancada ruralista pretendem pedir a Michel Temer que recupere o papel das Forças Armadas na “mediação” de conflitos no campo, hoje tarefa da Polícia Militar, se o vice-presidente for bem-sucedido em sua manobra para chegar ao poder.

No início de abril, antes da votação do impeachment, os sulcos da repressão militar nas terras brasileiras inspiravam não o autoritarismo da atual classe de proprietários rurais, mas a correção de uma injustiça histórica imposta pela ditadura. Em 1972, a construção da Rodovia Transamazônica pelo Plano de Integração Nacional dividiu o território dos índios da etnia wokorongma, historicamente chamados de arara. A região passou a ser palco de conflitos, mortes e desagregação das relações sociais e produtivas.

Uma das metades singradas pelas obras da rodovia foi reconhecida como terra indígena no ano passado. Interditada para estudos em 1985, a banda sul do território teve sua demarcação concluída pelo governo federal em 5 de abril deste ano. Com 733,6 mil hectares, a terra indígena Cachoeira Seca, no Pará, teve seu processo de homologação acelerado e concluído após estudos de impacto ambiental das obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, que diagnosticaram a vulnerabilidade dos arara. A Fundação Nacional do Índio apresentou como condicionante para a viabilidade da construção da hidrelétrica a demarcação do território.

A entrega definitiva da Cachoeira Seca ao controle dos arara foi o primeiro ato de um pacote de aceleração de demarcações no País. Na quarta-feira 27, Eugênio Aragão, ministro da Justiça, afirmou que Dilma Rousseff determinou um esforço conjunto das pastas para “adiantar essa pauta”. Em seu primeiro mandato, Dilma foi criticada por lideranças e entidades indígenas por não concluir uma demarcação sequer em 2013 e 2014. No ano passado, a presidenta homologou sete terras, o equivalente a 480 mil hectares. Apenas com a aprovação do território dos arara neste ano, Dilma superou a área demarcada em 2015.

 

Publicado por: Chico Gregorio

0 Comentários

Deixe o seu comentário!