Por: Folha de S. Paulo
Ou o futuro presidente Michel Temer garroteia a Lava Jato ou a Lava Jato deve devastar o seu governo.
É esse cabo de guerra silencioso que aguarda o novo presidente. Por uma das ironias da história, a ascensão de Temer à Presidência coincide com o momento em que a cúpula do PMDB torna-se um dos focos principais da investigação da Lava Jato.
O problema para Temer não é só o número de envolvidos da cúpula do PMDB com suspeitas de propina, mas a proximidade deles com o novo presidente.
O grupo de suspeitos inclui o círculo que articulou com Temer o processo que culminou no afastamento da presidente Dilma Rousseff. Além do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afastado da Câmara pelo Supremo, são investigados na Lava Jato os ministros do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, Romero Jucá, da Casa Civil, Eliseu Padilha, do Turismo, Henrique Alves, e da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, o senador Valdir Raupp (PMDB-RO), o ex-ministro Moreira Franco.
Jucá, o principal articulador político de Temer, é citado em delações de executivos da Camargo Corrêa e da Andrade Gutierrez como recebedor de suborno por causa de grandes obras no setor elétrico, como a usina nuclear Angra 3 e Belo Monte.
Também é citado como articulador de medidas que favoreceram a OAS em mensagens enviadas por Léo Pinheiro, ex-presidente da empreiteira. Jucá nega enfaticamente todas as acusações.
Alves é acusado de ter recebido propina da OAS, repassada a ele a pedido de Eduardo Cunha, segundo as mensagens encontradas no celular de Léo Pinheiro. Alves diz em sua defesa que são contribuições legais para a sua campanha a deputado.
Já Eliseu Padilha e Moreira Franco foram citados pelo então senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) em sua delação como políticos que deram apoio a sua indicação para diretor da Petrobras em 1999, no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Delcídio confessou que recebeu propina no cargo. Moreira confirmou ter apoiado a indicação de Delcídio, mas nega ter recebido benefícios. Já Padilha nega que ter indicado o ex-senador, cassado por seus pares na terça (10).
Assim como ocorreu com Cunha, todos eles podem ser abatidos pela Lava Jato se as investigações continuarem no mesmo ritmo com que a operação começou, em março de 2014.
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