07/03/2016
07:12

Por Ricardo Wagner de Souza Alcântara.

A sociedade potiguar aguarda com ansiedade uma resposta da Assembleia acerca de seu quadro de servidores e seu assombroso custo com pessoal. No sonho dourado de todos que se indignam com a questão, o Presidente da Casa exoneraria imediatamente o total dos comissionados e passaria a exigir assiduidade, carga horária mínima e produtividade dos efetivos. O Presidente Ezequiel passaria o parlamento estadual a limpo, aposentando o cabide de empregos, enterrando os abusos com o dinheiro público e inaugurando uma era de transparência, probidade e independência na Assembleia. Após estes cortes profundos, a Assembleia Legislativa, sintonizada com as graves dificuldades enfrentadas pelo Estado, devolveria uma fábula ao tesouro estadual.
Mas vamos combinar: o Presidente Ezequiel Ferreira de Souza não vai fazer nada disso. Tais medidas são grandiosas demais para ele. Não combinam com seu DNA, com sua trajetória e nem com seu modo de fazer política. Sabe que é o certo a fazer, mas além das condicionantes citadas, está enredado, juntamente com seus pares, num novelo de interesses e conveniências relativas aos ocupantes dos cargos. É capaz até que numa noite insone, o Presidente Ezequiel tenha devaneado com a popularidade que estas medidas lhe confeririam. Mas o delírio termina de forma melancólica com a sentença do Capitão Nascimento: “O sistema é foda!”
Não. Eles não vão fazer nada que satisfaça a sociedade. Eu custo a acreditar. Só o farão se forem determinados por sentença transitada em julgado.
Então, o que esperam os deputados, inclusive aqueles mais aguerridos, no seu sepulcral silêncio? Se pudéssemos entrar na cabeça de qualquer dos deputados estaduais agora, veríamos que eles têm em mente duas esperanças: 1ª.) o clamor público e a fúria das redes sociais vão arrefecer. Bastam duas semanas. No máximo, três; 2ª.) um escândalo de proporções amazônicas vai abafar este nosso escândalo de fantasminhas em breve.
O constrangedor silêncio dos deputados e as manobras evasivas da direção da Casa (Realização de auditoria para exonerar quem não trabalha? Hein? Precisa? Jura?) não deixam margem à dúvida: os deputados – TODOS – estão calados, em oração, enrolados na bandeira do Rio Grande do Norte, esperando que o tempo passe e o povo esqueça como sempre.
Dado o grau de alheamento e pusilanimidade que algumas entidades empresariais, profissionais e estudantis demonstram até o momento (espero que a OAB se posicione de forma dura, como implorei a seu Presidente), ignorando completamente o escândalo, a aposta dos deputados tem alguma chance. Infelizmente.
A menos que… A menos que você se envolva pessoalmente na questão e esbraveje, proteste, vaie deputados e gafanhotos em praias e restaurantes, pressione e use amplamente seu direito constitucional à liberdade de expressão. Caso contrário, caro leitor, o tempo vai favorecer os deputados silenciosos e os gafanhotos que vão continuar devorando boa parte do nosso milharal orçamentário. E aí somente uma demorada e improvável decisão judicial nos salvará desta dolorosa sangria de quase um bilhão por legislatura (Se a ALERN devolvesse 200 milhões ao ano, a crise na saúde não seria tão grave). Se você não fizer nada, persista suportando ver uma imensa quantidade de privilegiados consumir o dinheiro que o Estado arranca da sua renda e se delicie com as selfies deles no Instagram.
Se a aposta dos deputados não funcionar – porque o estimado leitor resolveu sair da sua zona de conforto – e a pressão persistir, tenho uma sugestão transitória para o Presidente Ezequiel. Enquanto mede as consequências e conveniências da necessária exoneração em massa, nosso estimado Presidente poderia instalar relógios de ponto. A aquisição poderia ser até emergencial, dadas as atuais circunstâncias. O TCE tem o know-how da licitação. A atual presidência da Corte de Contas instalou por lá.
Eis uma solução fácil, justa e rápida. E ela vai ter consequências deliciosas. Os gafanhotos que moram na Europa ou fora do Estado vão ter o ponto cortado e não poderão receber salário (há notícia de que uma servidora da ALERN mora há 10 anos nos EUA). A economia já será enorme. Aqueles que tiverem outra profissão, vão ter que escolher entre suas atividades. Aqueles que tem lojas ou negócios, vão ser forçados a pedir exoneração. Quem se defendeu nas redes sociais dizendo que trabalha e não trabalha efetivamente, será desmascarado (mais uma vez). Quem trabalha seriamente na Casa (e eles existem), terá finalmente a chance de se distinguir do joio. Mas o efeito mais interessante dessa maquininha de aferição de jornadas de trabalho será ver o entupimento humano diário na Casa. Talvez aí, finalmente, em meio à tempestade de gafanhotos, os Srs. Deputados percebam que uma lista de 3.000 e tantos servidores contraria até as leis da física e resolvam dar um passo firme em direção à moralidade…

Publicado por: Chico Gregorio

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