TQ IPOJUCA PERNAMBUCO VAZAMENTO ÓLEO 25.10.2019 METRÓPOLE ESPECIAL EXCLUSIVO EMBARGADO VAZAMENTO ÓLEO Grupo de rapazes que trabalham em restaurantes de beira mar da Praia realizam coleta do material tóxico. Todos sem os devidos equipamentos de proteção e expondo-se aos efeitos nocivos da substância. Mergulhadores profissionais e amadores retiram óleo incrustrado em meio a corais e pedras da Praia de Pontal do Cupe, no Município de Porto de Galinhas, na cidade de Ipojuca. Local é importante fonte de renda para diversas famílias que atendem centenas de turistas todos os dias. FOTO TIAGO QUEIROZ / ESTADÃODo Estadão 

Uma semana antes de a Polícia Federal deflagrar a Operação Mácula no dia 1º de novembro, que apontava o navio grego Bouboulina como o principal suspeito pela mancha de derramamento de óleo avistada no litoral, o Ibama, órgão do Ministério do Meio Ambiente, já havia rejeitado as imagens que basearam a prova da PF, por já saber que não se tratava de uma mancha do poluente.

A revelação foi feita pelo coordenador-geral do Centro Nacional de Monitoramento e Informações Ambientais (Cenima) do Ibama, Pedro Alberto Bignelli.

Em declarações dadas à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Óleo, durante audiência na Câmara, o técnico especializado em análise de imagens de sensoriamento afirmou que as imagens chegaram a ser levadas ao Ibama ainda em outubro, pela empresa Hex Tecnologias Geoespaciais, de Brasília.

O material, segundo ele, foi exposto ao Ibama como parte de uma oferta comercial de serviço. A Hex mantém, desde março, um contrato com o Ibama para análise de imagens por satélite, mas trata-se de um serviço sob demanda, ou seja, a empresa ganha quando presta o serviço.

“Vendo as imagens, eu, como técnico, não me senti confortável em assumir aquele relatório como verdadeiro”, disse Bignelli. O técnico contou que, após a repercussão da operação da PF, que apontava o navio grego Bouboulina, da empresa Delta Tankers, como o autor do derramamento, chegou a ser alvo de chacota no Ibama. “Teve uma brincadeira de nosso diretor… Eu ouvi ‘você comeu bola’. Então, respondi a ele ‘eu não coloco meu currículo nesse trabalho’”, comentou.

Declaração contradiz fala de empresa de análise de imagens

A declaração contradiz o que afirmou, em novembro, o presidente da Hex, Leonardo Barros. Ao Estado, ele comentou que tinha decidido ceder as imagens à PF porque não tinha sido acionado pelo Ibama, nem pelo Ministério do Meio Ambiente.

“Reagimos às demandas do Ibama, como, por exemplo, olhar o desmatamento em determinado local, etc. Nesse caso, especificamente, para a mancha de óleo, realmente não fomos acionados. Agora, por que isso aconteceu, é melhor perguntar para o Ibama”, disse Barros, na ocasião.

Deflagrada a operação da PF, o Ibama fez um laudo técnico próprio sobre as supostas provas e concluiu que, na realidade, se tratava de clorofila.

“Fizemos o trabalho em sentido contrário. Chegamos à conclusão de que tinha feição de clorofila, o que é completamente incompatível com óleo. Ficamos plenamente tranquilos, aquilo que era mais um falso positivo”, comentou Bignelli.

Marinha, que centraliza os trabalhos de investigação, chegou a dizer, na semana passada, que o Bouboulina ainda faria parte dos trabalhos das investigações. A Delta Tankers, dona do navio, já rejeitou ligações com o crime ambiental e se prontificou a auxiliar nas apurações.